Estamos vivendo no Brasil momentos no mínimo estapafúrdios, que nos deixam perplexos. Uma pandemia grassando sobre a população brasileira e uma recessão, sem precedentes, batendo à porta de nossa economia. Lamentavelmente, a polarização política foi transportada para o ambiente do combate ao COVID-19. Alguns dizendo que a pandemia é uma histeria, um exagero, e outros afirmando que a enfermidade é extremamente séria e que o isolamento social é imprescindível.
Se esses pontos de vista fossem apenas expressados no âmbito da população, seria razoável e até natural, pois vivemos num ambiente democrático. Entretanto a polarização também se bandeou para a seara política. Mas os políticos não expressam os desejos da população? Então pode haver a polarização entre eles. Sim, é claro, contudo, nos momentos críticos, quando a vida dos concidadãos está em jogo, nos países sérios, as lideranças políticas se unem para enfrentar o inimigo comum.
O que agrava a situação é que não há só discursos, mas também ações que materializam essa polarização, já de conhecimento de todos. Parece que algumas autoridades não perceberam que se tivéssemos combatido a pandemia com medidas sérias de isolamento social desde o começo, antes mesmo dos primeiros casos de contaminação, com certeza, já teríamos saído da quarentena e os danos à economia seriam minimizados. Bastava inspirar-se no exemplo da Nova Zelândia, comandada pela primeira-ministra Jacinda Kate Laurell Ardern. A líder dos neozelandeses implantou rapidamente as medidas sanitárias de isolamento no país, controlou exemplarmente a pandemia, e o longínquo arquipélago da Oceania voltou ao seu dia a dia, sem grandes transtornos econômicos.
Aqui, na terra onde canta o sabiá, criou-se um cabo de guerra, em que cada lado fez o máximo esforço para fazer prevalecer suas ideias e propostas. E o cabo ficou no mesmo lugar, sem vitoriosos, apenas vencidos. Se tivéssemos combatido a pandemia com mais seriedade, firmeza e responsabilidade, os resultados seriam mais positivos e ganharíamos credibilidade internacional e o rápido retorno dos investimentos advindos do exterior. Mostraríamos ao mundo que somos sérios, contrariando a opinião de Charles de Gaulle sobre o Brasil. Mas, ao contrário, somos quase uma chacota mundial.
Quando o mandatário máximo não reconhece a seriedade do problema enfrentado e dá sinais de que não acredita nas recomendações das maiores autoridades sanitárias do planeta, isto implica em descrédito. Ele está nadando contra a corrente ou será que a grande maioria dos líderes mundiais estão errados?
Por outro lado, os líderes estaduais e municipais, em sua maioria, são obrigados a adotar medidas impopulares, para enfrentar a pandemia, dentro de seus limites e segundo suas próprias diretrizes, pois a linha mestra vinda da Capital Federal não se mostra firme e coerente, ao contrário, é errática.
A população fica na dúvida entre isolar-se ou não, afinal quem está certo? A população clama por um caminho certo a seguir. É como um rio, que procura um caminho entre vales para chegar ao mar da tranquilidade. Quando o discurso e as condutas das autoridades públicas não são uníssonas, é evidente que a população fica perdida. E quem se perde, não encontra o caminho para sair do labirinto da pandemia e ainda cai na armadilha da recessão econômica.
Enfim, temos um maestro que conduz a orquestra fazendo ouvidos moucos, sem se importar no que está sendo executado. Os músicos decidem não seguir a batuta do maestro e executam a música da forma que acreditam ser conveniente, fazendo seus próprios arranjos. E a plateia, nossa população, fica atônita assistindo a esse espetáculo dantesco e alguns dos espectadores pagam com o ingresso mais caro: sua vida.