Os verdadeiros líderes.

Via de regra, nas crises, sejam elas guerras, desastres naturais, depressões econômicas e pandemias, surgem e se moldam os grandes líderes.

Não é qualquer um que se torna líder. Chefes existem aos borbotões, pois simplesmente comandam seus subordinados, sendo que estes os obedecem ou por medo ou por necessidade.

O verdadeiro líder conduz seus liderados por causa de suas qualidades e virtudes. O líder sempre tem bom senso; é responsável; é corajoso, até intrépido, mas prudente; convicto e comprometido com seus ideais a ponto de ser o norte para seus liderados, mas que sabe mudar os rumos diante do bom senso, que deve imperar.

A história tem inúmeros exemplos de grandes líderes políticos, religiosos, militares, científicos etc.

Margareth Thatcher teve a coragem de tomar medidas impopulares no início da década de 80 do século XX, para sanear a economia do Reino Unido, altamente estatizada, que, com o passar do tempo, se mostraram imprescindíveis para a estabilidade e a prosperidade da terra de Shakespeare. Um de seus antecessores, Winston Churchill, enfrentou a máquina de guerra germânica na Segunda Guerra Mundial, prometendo ao povo bretão apenas sangue, suor e lágrimas. Estes são exemplos de coragem em situações distintas.

Mas grandes líderes também sabem retroceder. John F. Kennedy, presidente dos Estados Unidos, e Nikita Kruschev, secretário geral do Partido Comunista da União Soviética, em 1962, evitaram a deflagração de um conflito nuclear, que nos levaria às trevas, quando decidiram, cada um deles, desativar as bases de mísseis americana na Turquia e a soviética em Cuba, arrefecendo os ânimos beligerantes exaltados de ambos os lados.

Outros líderes foram persistentes como o general Charles de Gaulle, que divergiu de seus superiores diante do armistício de 1940, na verdade uma rendição, e que lutou pela libertação da França, até o dia em que atravessou o Arco do Triunfo, para o gáudio de seus conterrâneos, quando Paris foi libertada do jugo alemão em agosto de 1944.

Existem líderes que eram admirados por sua perspicácia e determinação, como o general George S. Patton, que conduziu o terceiro exército dos Estados Unidos na Europa, na então mais rápida mobilização militar terrestre da história, que, em apenas quatro dias, em pleno inverno europeu, atravessou uma área extensa, para salvar a 101ª Divisão Aerotransportada, cercada pelos alemães em Bastogne. Ele era conhecido por seus comandados pelo estranho apelido de “velho sangue e tripas”. Apesar dessa alcunha, era famoso por se preocupar com o bem-estar de seus soldados. Foi um gênio militar, mas com convicções políticas controversas, mas um verdadeiro líder das armas, respeitado por seus pares e temido por seus adversários.

Em contraposição a ele, tivemos Mahatma Gandhi, que pela resiliência e humildade, sob uma aura pacifista, obteve a independência da Índia, desgarrando-a do império britânico, em que outrora o sol nunca se punha.

No Brasil, convém citar Dom Pedro II, nosso segundo imperador, que defendeu a libertação dos escravos desde 1848 e depois de quarenta anos, obteve seu intento, com a assinatura da Lei Áurea por sua filha, a princesa Isabel, mas que abreviou seu reinado, por contrariar os interesses econômicos dos fazendeiros brasileiros. Ele foi o exemplo de um líder determinado e que era admirado pelo povo brasileiro por sua simplicidade, bondade, conhecimento e inteligência. É bom lembrar que o seu reinado de 58 anos, sob um regime monárquico constitucional, exercendo o poder moderador, que lhe foi conferido pela Constituição de 1824, foi o período de maior estabilidade política da história nacional, mesmo enfrentando a longa Guerra do Paraguai.

Agora, estamos numa crise sanitária de proporção planetária, que atinge a todos, sem discriminar quem quer que seja, esta é a oportunidade para conheceremos nossos verdadeiros líderes ou vamos nos decepcionar com aqueles cujos os ombros arcarão com o peso da responsabilidade, diante de desafios superiores às suas qualidades e virtudes.


Edson Miranda
Advogado, professor universitário e escritor

 

Referência bibliográfica:
Blog do jornalista Fausto Macedo publicado no site do jornal “O Estado de São Paulo” em 3 de maio de 2020.

https://www.estadao.com.br/politica/blog-do-fausto-macedo/os-verdadeiros-lideres/