Reflexos do passado.

O todo poderoso ex-agente da KGB, Vladimir Putin, presidente da Rússia com poderes de czar, determinou a invasão da ex-aliada Ucrânia. Aliás, ninguém pode dizer que Joe Biden não é bem informado, pois há dias está brandindo aos quatro cantos, que a Rússia iria invadir a Ucrânia. Podem criticar a forma como são conduzidas as relações exteriores dos Estados Unidos, mas não podem vituperar as agências de inteligência norte-americanas. A informação estava certa. Ao contrário do que foi quando da última invasão ao Iraque de Saddam Hussein. Até hoje não encontraram as armas de destruição em massa iraquianas. Devem estar bem guardadas.

Na verdade, o czar Putin não estava nada satisfeito com a possibilidade da Ucrânia ingressar na OTAN – Organização do Tratado do Atlântico Norte – criada em 1949, nos idos da Guerra Fria, para se opor ao bloco soviético com o seu Pacto de Varsóvia.

Na visão de Putin, é o mesmo que aconteceu quando a União Soviética decidiu instalar mísseis em Cuba, ou seja, no jardim dos Estados Unidos, em 1962, o que quase nos levou a uma hecatombe nuclear. Ainda bem que John Kennedy e Nikita Khrushchov conseguiram amenizar os ânimos exaltados à época de ambos os lados.

Mas Putin está com planos maiores para o seu império russo, ele deseja ampliar sua esfera de influência, para, quem sabe, restaurar o poder da antiga União Soviética.

Um detalhe importante aos incautos “especialistas”, a Rússia nunca foi comunista. A União Soviética era. A Rússia não, ela é um estado capitalista. Daí, eventualmente, restrições financeiras eficientes por parte dos Estados Unidos e da União Europeia podem arrefecer o desejo expansionista de Putin.

É bom lembrar que a Rússia não se compara à potência que foi quando compunha a União Soviética. Hoje, a Rússia é apenas a décima-primeira economia do mundo, à frente do Brasil, que já foi a sexta potência econômica em 2011. Quanta lambança fizeram com nosso país nestes últimos dez anos.

Mas voltando ao assunto, a Rússia não resistirá a embargos econômicos ferozes, como estão prometendo os líderes ocidentais, entretanto Putin pode testar esse limite.

No passado, um líder alemão, nascido austríaco, também decidiu expandir os territórios germânicos. Primeiro foi a Áustria, onde nasceu, depois os Sudetos, a Polonia, os Países Baixos, a Bélgica, a França etc. Quase dominou toda a Europa, não fosse um primeiro-ministro inglês de coragem ímpar chamado Winston Churchill e a potência econômica do Novo Mundo, os Estados Unidos. Este último ainda a maior potência do planeta sob todos os aspectos.

Estaria Putin repetindo os mesmos passos de Adolf Hitler em sua saga expansionista? Só o tempo dirá, até porque, os russos são mestres em despistar o que realmente desejam. Contudo, se a Rússia não for impedida em sua eventual pretensão expansionista, logo outros vizinhos poderão ser invadidos. Assim começou a Segunda Grande Guerra, pois os líderes europeus à época acreditavam que Hitler ficaria satisfeito apenas com os Sudetos. Erraram feio.

Outro reflexo do passado está ocorrendo nos Estados Unidos, pois Joe Biden afirma que não pretende enfrentar as tropas de Putin, mas apenas dar meios financeiros e bélicos para a Ucrânia resistir à invasão. Assim, também fez Franklin Delano Roosevelt até 7 de dezembro de 1941, o “dia da infâmia”, quando os Estados Unidos enfim ingressaram na Segunda Grande Guerra, após o ataque nipônico a Pearl Harbor.

Por fim, também nas bandas tupiniquins o passado parece se espelhar. O Itamarati está em cima do muro, quer condenar a invasão da Ucrânia, mas não sabe se pode. Getúlio Vargas também demorou muito em decidir de que lado ficava o Brasil, dos Aliados ou do Eixo. Optou pelo lado dos Aliados, diante das imensas vantagens oferecidas pelos Estados Unidos, buscando garantir sua esfera de influência nas Américas. E o nosso mandatário máximo seguirá qual caminho, pois parece que nenhum dos dois lados não nos dão a mínima.


Edson Miranda
Advogado, professor universitário e escritor.